Órfão de jovem seu destino foi traçado
e nas mãos de padrastro cortou um dobrado
Em 3 irmãos outros 4 se juntou
a família a crescer e a vida apertou
Jovem ainda Adelino seu patrão
no curral ganhou a vida e se firmou no seu facão
Foice, facão no machado e no arado
neste trato que o jovem deu-se por bem prestado
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No Ranchinho vida dura
Viu mulher de formatura
com Maricas se casou
Do seu suor os contos de reis se ajuntaram
pro Mandu se levantaram
foram então enfim viver
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Alto de serra virgem o mundo inteiro ele via
para algo pros filhos deixar nova terra ele abria
Nem casinha pra morar restou
uma tapera derrubada no carro de boi pra Serra levou
Ela professora e das lidas do doce
uma mão na caneta outra na terra a ajuda trouxe
Ele analfabeto ela letrada lecionava
no seu machado novo mundo descortinava
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No carro de boi e na vara do eito
A serra do Mandu vai tomando jeito
Com as bênçãos da Sant’Ana da Prata
Sol a sol caminhava e trabalhava
Uma légua alegre a pé cortava
Polistra vira-lata a sua companhia
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dos sete filhos com dificuldade só 4 vingou
sendo que o último quase Deus levou
uma filha de marido valentão
foi para Goiás na escuridão
os outros dois sempre por perto
este caminho penoso era o certo
por fim todos cresceram
e dos pais nunca esqueceram
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quantas lembranças a todos deixou
sua voz rouca grave nunca se queixou
que vozeirão em corpinho mirrado
pequeno magro e forte
sempre olhando para um norte
homem bravo e de destemida coragem
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conta-se que até a onça ele enfrentou
numa noite chuvosa ela o visitou
debaixo do carro de boi cheio de rapadura
a pintada que rondava não o encontrou
um vizinho maludo ele encarou sem medo
num alazão lustrado o ricaço fez arremedo
o pobrezinho na mira afiada
na carabina fez a cerca fincada
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suas histórias são sem par
uma vida para se guardar
cada lembrança uma lágrima
este senhor nunca se viu chorar
ria e gostava de viver a alegrar
que saudades de suas mãos por fim macias
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honesto e de firme propósito encarnado
de José Cornélio pagou o único emprestado
seu bom conselho por todos era ouvido
recorrer a ele era solução no garantido
Morro Agudo, Torneiros, Limas e São Gonçalo
Por todos era tratado com regalo
Lá vem o homem da Serra do Mandu
De bons modos e recatado não dançava lundu
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O tempo corrói o cerne mais duro
Nunca bengala nem óculos no escuro
Da medicina muito pouco se fez usar
O cigarro de palha e a voz grossa
Lembrança da vida nossa
Chapéu de palha como veste o matuto
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Foi assim este grande varão
Em todas lutas campeão
Este é Joaquim Frederico Galvão
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