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terça-feira, 20 de julho de 2010

QUANDO A ESTÓRIA É MELHOR QUE A HISTÓRIA

Quando jovem, tive o prazer de ler Alexandre Dumas. E li os dois: pai e filho. Do pai, a célebre obra O Visconde de Bragelonne e do filho A Dama das Carmélias.

dumas

Pelo do pai tive foi-me apresentado o melhor trio de quatro pessoas! Sim sim! Um trio de quatro heróis: os três mosqueteiros: Aramis, Porthos, Athos e d'Artagnan. Mas sem dúvidas fiquei impressionado com a representação cinematográfica de “O Homem da Máscara de Ferro” tendo Di Cáprio no papel do irmão gêmeo do Rei Luís XIV. Encerrado nas torres da Bastilha, este filho adulterino de d'Artagnan ficou naquele claustro anos a fio até que, certa feita, este primogênito é trocado pelo renegado irmão.

Fábula linda e de inesquecível memória. Até mesmo Voltaire explora esta estória.

mascara de ferro

Quando agora, garimpando sebos em Belo Horizonte vejo uma coleção de autoria de um velho conhecido: Henri Robert. De H. Robert tive meus ânimos exaltados e novas forças para enfrentar o dia-a-dia da vida jurídica no seu memorável “O Advogado” que é leitura obrigatória qualquer um que queire lançar-se na carreira postulatória em juízo.

Naquele sebo vejo 10 volumes intitulados “Os Grandes Processos da História”. Compulsivo e apaixonado, não medi esforços para jogar nas costas tal coleção. O livreiro entrega-me um saco de livros após receber o pagamento e diz: “A sabedoria pesa. Pesa uns 15 quilos neste caso”. E deu um sorriso olhando para a rua em declive apinhada de pessoas pela qual devia eu transpor com minha preciosa aquisição escrita em 1931, traduzida e editada nos idos de 1959 aqui no Brasil.

E dentre as dezenas de processos estava “O Mascara de Ferro”. Junto dele “As Envenenadoras”, “Henrique VIII, O Rei Barba-Azul”, “O Caso Lafarge”, “O Processo de Carlota Corday”, os memoráveis casos da Imperatriz Josefina, Maria Luiza, Carlos X, Luís VXIII e tantos outros. Neste manancial o Mascara de Ferro era leitura de minha primeira obrigação.

E quão grande foi a minha decepção ao descobrir que não existiu nenhuma máscara de ferro! Menos ainda um tal irmão gêmeo de Luís XIV! Que não era filho do destemido d'Artagnan!

O Preciosista Henri Robert fez juntar a sua narrativa a ata de entrada daquele singular prisioneiro inspirador da estória, na Bastilha no dia 18 de setembro de 1698, vindo da prisão de Sainte-Marguerite, para ocupar o terceiro andar da torre Bertaudière, uma das oito que existiam na Bastilha. Também deixa registrada a ata de sua morte no dia 20 de novembro de 1703 narrando a serenidade de sua morte!

bastilhas2

Tudo ali demostrado, comprovado e historiado conforme a mais mais pura narrativa documental da época. Seu nome sua origem. Os fatos que deram causa a tal fábula. Tudo em total discrepância com a hollywoodiana ficção!

Por um momento entristeci-me ao ver que a historia é fria e em dissonância com o calor da estória criada por Dumas pai, por Voltaire e tantos outros.

Mas preferi o alento e conforto dado por H Robert ao final da narrativa histórica: “Tem Razão, em preferir o encanto misterioso da crença errônea à realidade decepcionante. Declararia ter quebrado a imagem que eles amam, ter destruído com mão brutal, a trama romancesca e frágil das ilusões. Certo é que a lenda é frequentemente mais forte do que a História, e que o erro, algumas vezes, infelizmente, prevalece sobre a verdade. Respeitemos as crendices dos fieis impenitentes, entregues as doçuras sedutoras dos seus sonhos, que lhe parecem preferíveis à precisão um pouco fria da verdade histórica.

Creio eu ter também, decepcionado o meu leitor que até aqui leu este artigo e deixei sem saber da verdade. Melhor não sabê-la. Deleitem-se com as estórias.

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