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sexta-feira, 25 de abril de 2008

com um pires na mão


Antes de iniciar discorrer pelo tema agradeço aos meus leitores as várias sugestões de artigos que tenho recebido, para melhorar nossa comunicação, no final do artigo passo meus contatos para enviar-me suas críticas e outras propostas.

Imagino que movido pelos ventos políticos eleitorais que já se avançam sobre nós, o leitor sugeriu que eu fizesse uma “via crucis” do eleitor para que ele tenha realizado alguma obra na sua cidade. Ele aponta o dramático resultado para políticos que tentam concretizar estas obras.


Eis então alguns passos a serem seguidos segundo a cronologia que o próprio leitor sugere:

1. Ser eleito: para isto tem de se tornar um “despachante de obras sociais”, ou seja, pessoa que aliada a determinado grupo fica ajudando a desburocratizar algumas situações para a realização de mínimas coisas e assim agradar a determinado partido e classe social. Neste momento ele arruma cestas básicas, fura fila no INSS, faz declaração de imposto de renda, consegue mudas de plantas no IEF, arruma advogado, despacha aposentadorias, agenda com vereador, etc;

2. PAC: “Programa de Ajuda ao Candidato”, este cidadão depois de muito articular é escolhido por um partido para se candidatar. Pode ser apenas um “boi de piranha” que vá apenas colecionar mais votos para a legenda ou um “verdadeiro” candidato com possibilidades de ser eleito;

3. Eleito: tem de fazer parte de Comissões dentro da Câmara ou Assembléia, para que seu nome apareça na aprovação de algum projeto;

4. No caso de prefeitos: ele fica nas mãos de um secretariado, e na boa vontade de vereadores que tem de aprovar suas iniciativas em projetos e procurar uma maioria na câmara. As barreiras então vão somente crescendo;

5. O prefeito: tem de ter força política dentro da Associação de Municípios para os projetos de maior vulto, aqueles de ordem estadual e federal. Deve contar com uma boa influência dentro desta Associação, melhor se for um deputado;

6. O deputado: tem de estar, obrigatoriamente, bem assessorado para que seus projetos estejam nas pautas de sua Assembléia (estadual) ou Câmara (federal). Para aprovação destes projetos ele necessita também de apoio do Secretariado do Governo Estadual;

7. Aprovado o projeto: ele (vereador, prefeito, deputado) tem de dirigir-se ao governo para incluir as despesas de realização do projeto nas dotações orçamentárias. Geralmente são tantas que apenas incluir não basta, tem de inscrevê-la com o caráter de “prioritária”. Aqui a luta fica mais complicada ainda;

8. Aprova-se o projeto e o inclui na dotação orçamentária: foguetes, festas, fotos, comemorações. Se um dos personagens acima citado mudar: pára tudo!

E assim as coisas vão indefinidamente num ciclo interminável.

Então o leitor faz a seguinte conclusão que julguei ser interessantíssima:

Sem um bom vereador, prefeito, deputado (estadual e federal), associação de municípios, interesse de secretariado (municipal e estadual) programas de governo (estadual) e um projeto aprovado, etc. (ufa!) não se precisa esperar obra alguma. Necessitamos de uma enorme rede de “despachantes políticos”. Precisamos de reuniões e mais reuniões, algumas sem resultado algum, para estes projetos serem concluídos. Jamais o cidadão comum vai resolver alguma coisa. O próprio político de hoje já anda de um lado para outro pegando nas mãos de todo mundo, mas sempre com um pires na mão esquerda para mendigar seus favores.

Entendo que na prática verificada no dia-a-dia o leitor / eleitor, está certo em suas conclusões.


De fato, a “política” é isto mesmo. Nós cidadãos elegemos nossos “despachantes” junto ao governo (também eleito por nós) para que eles juntos nos dêem as soluções para os problemas que vivenciamos. Quando usamos a expressão “fazer política” referimo-nos justamente a esta figura com o pires na mão pedindo favores. Sempre assim, o da escala mais baixa suplicando para o de escalão mais alto!

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