Páginas

sexta-feira, 16 de março de 2012

Romeu e Julieta

Linda passagem do célebre teatro de Shakespeare.

Para colaborar na trama do casal, Frei Lourenço elabora um suco preparado com ervas e flores que deixará Julieta com aparência de morta. Naquela manhã Frei Lourenço diz as seguintes palavras vendo as belas flores que colhe para o preparado.

 

A Aurora de olhos cinzentos sorri a torva noite, matizando as nuvens orientais com raias de luz da senda do dia e longe das rodas de foto do Titã. Agora antes que o sol avance seu olho abrasador para animar o dia e secar o úmido orvalho da noite, devo encher nosso cesto de vime com ervas malignas e flores de precioso suco.

A terra, que é mãe da natureza, também é sua tumba. O que é sua fossa sepulcral, é seu materno seio; e dele, nascidos e criados em seus peitos naturais, achamos seres de espécies diversas, excelentes muitos por suas virtudes, nenhum sem alguma e todos, não obstante, diferentes.

Oh! imensa é a graça poderosa que reside nas ervas, plantas, pedras e em suas raras qualidades, porque  na terra não existe nada tão vil que não preste a terra algum benefício especial; nem há nada tão bom que, desviado de seu verdadeiro uso, não transtorne sua verdadeira origem, caindo no abuso.

A própria virtude se converte em vício, mal aplicada, e as vezes, o vício se dignifica pela ação.

Dentro do terno cálice desta débil flor residem o veneno e o poder medicina. Por isto, sento aspirada, deleita a todas e a cada uma das partes do corpo; sendo provada, porém, destrói o coração e todos os sentidos. Assim, dois reis inimigos acampam sempre no homem e nas plantas: a benignidade e a malignidade; e quando predomina o pior, imediatamente a gangrena da morte devora aquela planta.

Nenhum comentário: